terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Apenas um Desabafo


Tenho tentado.
Tenho me esforçado além das minhas forças, juro que tenho.

Mas a cada dia parece não ser o suficiente.

Antes eu gritava, humilhava, ameaçava terminar tudo entre outras coisas mais.

Sim. Fui dura por diversas vezes. Por muitas fui até cruel, confesso. Não sou perfeita. E como eu disse desde o inicio, ainda não aceitei tudo isso de coração. Na verdade, acho que aceitei toda a transição por amor. E como já mencionei o amor não tem formas, apenas se sente ou não. Contudo, é uma grande desconstrução que tenho que fazer. E não é só física. É mental, social e psicológica. E juro, não está fácil.

Tenho colocado minhas forças ao grau máximo não só para entender, mas para conhecer mais desse universo que até então era desconhecido a minha ignorante pessoa. Acho que meus esforços não são suficientes, acho até que não sou a mulher que irá suportar e merecer essa vitória ao lado dele. Estou apenas desabafando. Preciso!

Um misto de dores me invade a alma. São tantas cobranças, tantos “dedos” que tenho que ter. Pisar em ovos nunca foi meu forte. Acho que estou esquecendo de mim como mulher. Também tenho sonhos, anseios, desejos, medos, raivas. Também necessito de colo, de ser afagada, de me sentir uma mulher. Dizem que por detrás de um homem, sempre tem uma grande mulher. Não consigo me ver neste momento como essa grande mulher.

Não sei se conseguirei seguir na postura que estou. Talvez o melhor seja estabelecer outros tipos de laços. Laços esses que não nos tragam tantas dores. Pois hoje minha prioridade é te ver feliz e ser feliz. Necessito de alcançar novos horizontes. Gostaria que fosse juntos. Porém, existe um gênero incompreendido entre nós. Esse gênero sou EU.


 Dama Sahi



2 comentários:

  1. Oi Dama,
    Tenho pensado muito sobre a questão relacional diante das transformações que os FTM/MTF passam. Relacional no sentido de quem está mais próximo desta pessoa que passará por mudanças corpóreas, mas que, no fim, será a mesma pessoa. E aí eu me pego pensando em como somos egoístas quando achamos que nossos dilemas são maiores do que os dilemas dos outros. Não estou dizendo que é o seu caso, especificamente, mas você está quase lá.
    Na realidade, acho que você (e muitas outras pessoas) faz tempestade em copo d'água. Ok, pode não ter sido fácil para você se desprender da "mulher" com que namorava e aceitar que as pessoas mudam, mas as pessoas mudam o tempo todo. Se pensares que daqui há 20 anos a pessoa que está ao seu lado mudará drasticamente em função do tempo (falo do processo natural de envelhecimento), as mudanças geradas a partir dos hormônios etc serão ínfimas. O nosso corpo se transforma a cada dia, então por que a gritaria diante de uma mudança originada por hormônios?!?
    Entende o que quero dizer?
    Então, o problema é a rapidez com que as mudanças ocorrem? Ou é o medo de que seu desejo pelo seu parceiro se transforme ou suma? Ou é a mudança que acontece com as parceiras, em geral, que passam de lésbicas assumidas à heterossexuais compulsórias? Nenhuma dessas preocupações são/devem ser maiores do que o sentimento que envolve o relacionamento entre pessoas. Por que quando pensamos no amor que sentimos e nos fortalecemos nele, as preocupações decorrentes da mudança não fazem sentido.
    Mas eu vejo muitas pessoas "chorando" por causa da descoberta da vontade do outro de ser quem é, você não é a única. Pra mim, isso não faz o mínimo sentido. Quem sou eu para me achar mais importante do que isto? Não digo que você se ache, mas é o que parece lendo o que escreves.
    E só estou dizendo estas coisas por que acho importante que a gente olhe pro próprio problema de fora. E este é o seu problema: Você se sente num dilema por que a pessoa com quem está decidiu transicionar e ser aquilo que ele já era. Pensando assim, não soa um pouco egoísta?
    Espero que na sua busca, amadureças e percebas o quanto é desnecessário gritar aos quatro ventos que não somos compreendidos, que você está sofrendo em razão do outro ou que você não o compreende. Além do que, acredito que nós construímos certezas quando repetimos e repetimos coisas ditas, então você repete e repete que tem problemas, mas que busca solucioná-los e isto já é um começo. Já que estamos nesse mundo pra aprender... aprenda a lidar com o outro sem se vitimizar ou vitimizar o outro. Somos todos agentes nesta vida. E se persistirem os sintomas (dilemas, contradições etc) reveja o que tu sente.

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