Como comentei no post anterior. Essas últimas noites não foram fáceis.
Disforia, raivas, medos entre tantas outras confusões mentais.
Tudo isso ocorreu por algumas inseguranças da minha mente, que estão assombrando minhas noites.
Sempre disse a Fernando que seria honesta e transparente com minhas emoções e sentimentos, por mais cruéis que fossem no momento. E assim fiz. Na mesma noite, com os olhos vermelho de tanto chorar, abri meu coração. Contei a ele, o meu medo de que, após a transição fosse trocada por um homem. (Peço nesse momento desculpas aos que acompanham o blog. Não é nada pessoal ou para generalizar. Apenas um momento "mulherzinha com medo"). Sei que não se trata de uma regra, porém, percebi que muitos trans passam a relacionar-se com homens. E juro que mesmo com tantas explicações, que tive de um grande amigo, ainda é confuso. Muitos trans relacionavam-se com mulheres antes da transição e segundo a explicação desse amigo, era por que muitos não se enxergavam em um relacionamento com um homem com o "corpo" que tinham, e acabavam por adotar um relacionamento dentro dos conceitos " heteronormativo". E que para finalizar, se um trans gostava de homem antes da transição, após ele irá continuar a gostar.
Fernando ouviu tudo quietinho, apenas observava meu desespero. Deixou com que eu falasse tudo e depois, fechou dizendo ser um "transhomem hetero" . Confesso, que após muitas explicações, tranquilizou. Mas não "desencuquei".
Por hora deixaria esse assunto de lado, de nada adiantaria sofrer por antecedência. Essa noite ainda renderia muitas lágrimas.Não só da minha parte. Choramos juntos e abraçadinhos. Choramos porque ele não esperava ouvir de mim o que ouviu. Não bastasse as inseguranças, comecei a sentir que também perdia minha identidade. Sou uma mulher cis lésbica. Porém, ao entrar em transição eu perdi minha essência. Teoricamente serei vista como "hetero". Não que isso importe ou faça alguma diferença. Afinal, eu não me apaixone por uma genitália. E sim por um ser especial, com qualidades e defeitos. Contudo, sinto que me anulei, e acima de tudo, não gostei dessa sensação de que estou me desconstruindo. Sinto com se perdesse a minha essência e todas as lutas que vivenciei. Foi muito difícil dizer tudo isso a ele. Dizer se era justo me perder dentro dele. Morrer para que finalmente ele pudesse nascer.
Acho que por alguns segundos, desconstrui seu gênero, levei ao chão todas suas convicções e sonhos. Foi preciso. No dia seguinte, notei que eu não deixaria de ser quem eu sou e nem ele. Construiriamos uma nova história com sensações diferentes. Porém, jamais eu perderia a essência "feminina" linda que ele tem. (Muitos estão lendo e perguntando: Essência feminina?? Sim, não podemos esquecer que para ser o homem lindo de hoje, precisou ser uma mulher guerreira e corajosa. E que só uma grande mulher, teria a coragem de bradar seu renascimento)
E pensei!! Sou muito sortuda e abençoada, Deus em sua perfeição me deu um homem maravilhoso, que trouxe em seu DNA uma essência feminina de coragem, garra e determinação que faz com que ele seja completo. E meu coracao acalmou-se e meu sorriso foi de paz. Eis o grande desafio da criação.