domingo, 29 de dezembro de 2013

Desconstruindo Gênero



Como comentei no post anterior. Essas últimas noites não foram fáceis.

Disforia, raivas, medos entre tantas outras confusões mentais.

Tudo isso ocorreu por algumas inseguranças da minha mente, que estão assombrando minhas noites.

Sempre disse a Fernando que seria honesta e transparente com minhas emoções e sentimentos, por mais cruéis que fossem no momento. E assim fiz. Na mesma noite, com os olhos vermelho de tanto chorar, abri meu coração. Contei a ele, o meu medo de que, após a transição fosse trocada por um homem. (Peço nesse momento desculpas aos que acompanham o blog. Não é nada pessoal ou para generalizar. Apenas um momento "mulherzinha com medo"). Sei que não se trata de uma regra, porém, percebi que muitos trans passam a relacionar-se com homens. E juro que mesmo com tantas explicações, que tive de um grande amigo, ainda é confuso. Muitos trans relacionavam-se com mulheres antes da transição e segundo a explicação desse amigo, era por que muitos não se enxergavam em um relacionamento com um homem com o "corpo" que tinham, e acabavam por adotar um relacionamento dentro dos conceitos " heteronormativo". E que para finalizar, se um trans gostava de homem antes da transição, após ele irá continuar a gostar.

Fernando ouviu tudo quietinho, apenas observava meu desespero. Deixou com que eu falasse tudo e depois, fechou dizendo ser um "transhomem hetero" . Confesso, que após muitas explicações, tranquilizou. Mas não "desencuquei".

Por hora deixaria esse assunto de lado, de nada adiantaria sofrer por antecedência. Essa noite ainda renderia muitas lágrimas.Não só da minha parte. Choramos juntos e abraçadinhos. Choramos porque ele não esperava ouvir de mim o que ouviu. Não bastasse as inseguranças, comecei a sentir que também perdia minha identidade. Sou uma mulher cis lésbica. Porém, ao entrar em transição eu perdi minha essência. Teoricamente serei vista como "hetero". Não que isso importe ou faça alguma diferença. Afinal, eu não me apaixone por uma genitália. E sim por um ser especial, com qualidades e defeitos. Contudo, sinto que me anulei, e acima de tudo, não gostei dessa sensação de que estou me desconstruindo. Sinto com se perdesse a minha essência e todas as lutas que vivenciei. Foi muito difícil dizer tudo isso a ele. Dizer se era justo me perder dentro dele. Morrer para que finalmente ele pudesse nascer.

Acho que por alguns segundos, desconstrui seu gênero, levei ao chão todas suas convicções e sonhos. Foi preciso. No dia seguinte, notei que eu não deixaria de ser quem eu sou e nem ele. Construiriamos uma nova história com sensações diferentes. Porém, jamais eu perderia a essência "feminina" linda que ele tem. (Muitos estão lendo e perguntando: Essência feminina?? Sim, não podemos esquecer que para ser o homem lindo de hoje, precisou ser uma mulher guerreira e corajosa. E que só uma grande mulher, teria a coragem de bradar seu renascimento)

 E pensei!! Sou muito sortuda e abençoada, Deus em sua perfeição me deu um homem maravilhoso, que trouxe em seu DNA uma essência feminina de coragem, garra e determinação que faz com que ele seja completo. E meu coracao acalmou-se e meu sorriso foi de paz. Eis o grande desafio da criação.

Dama Sahi





sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Alinhando as INterrogações e EXclamações.


Começo o post de hoje deixando algumas coisas claras a quem começou a ler este blog.

1º Não tenho a pretensão de atingir números e sim ajudar e ser ajudada com qualidade nessa fase tão delicada e importante da minha vida. Visibilidade é importante? SIM. Afinal, para que se atinja um número de pessoas, precisamos ser vistos, correto? Mas, não me apego de maneira desenfreada a isso. Deixa acontecer devagarzinho.

2º Quando resolvi criar o blog, foi pensando nas minhas crises, loucuras e guerras internas quando o assunto é a TRANSIÇÃO do meu noivo. Quero deixar claro que, não aceitei totalmente o gênero dele. Contudo, quem sou eu para aceitar ou não. É simplesmente sua existência e ponto final. Acontece que são mais de seis anos de convivência com uma “mulher-lésbica” e de uma hora para outra “ela-ele” resolveu assumir aquilo que sempre soube que ele era. Só não imaginava que um dia o mundo também saberia.

3º Esse meu espaço nem sempre será de flores. E já deixo bem claro isso. A ideia não é contar uma historinha com final feliz. Quero expor aqui todas as minhas dificuldades, tristezas, raivas e todo sentimento confuso que sinto. 

Acredito que só assim, esvaziando minha mente de todos esses conflitos, poderei dar lugar a esse “HOMEM” que está renascendo em minha vida. Portanto, meus caros amigXS. Peço encarecidamente, que não se sintam ofendidos se em algum momento eu fizer um desabafo que não lhes agrade. Peço sim, a ajuda de vocês. Pois também me encontro em TRANSIÇÃO. Também estou em fase de adaptação e adequação mental de um gênero. E confesso-lhes que não tem sido fácil.

Acredito ter deixado claro o que espero com o blog. Acima de tudo, peço licença de deixar  uma mensagem ao grande Homem que está chegando em minha vida:

Amor, meu rei, meu amigo!
Ontem, fui dormir aos prantos, com o meu coração repleto de medos e incertezas. Sei que me deu colo, foi amigo. Sei que me ouviu. Porém, sei que de maneira indireta, fiz com que você se sentisse culpado, perdão! Não tive essa intenção. Talvez despejei os meus medos e inseguranças em cima de ti que também tem vários medos. PERDÃO!

Eu não tenho mais nenhuma palavra que possa expressar o quanto amo você.

Quando decidi seguir contigo, foi pensando nesse amor. Contudo, sempre fui honesta em dizer que eu “tentaria” e estou fazendo isso.

Esse blog e o livro que estou escrevendo, nada mais é que uma forma de entender e descobrir quem é esse “ser de luz” maravilhoso que sempre habitou dentro de ti, por debaixo dessa couraça feminina.  

Hoje estou aqui escrevendo com o coração em pedacinhos e com lágrimas nos olhos ao te ver dormir tão em paz ao meu lado. Contudo, já te peço desculpas pela minha próxima postagem. É preciso. Preciso me libertar desses grilhões que em alguns momentos tentam me afastar de ti. Preciso libertar minha alma e mergulhar fundo no seu mundo, que hoje é o meu mundo. Só que de forma desconhecida ainda.

Quero seguir nessa viagem de maneira honesta com nossa relação. E desejo que seja leve, tranquila e que me traga paz como sempre me trouxe.

Amo você, meu Rei.

 Dama Sahi








quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Caixa de Pandora - Desmistificando o Artigo



Após longos meses de muitas guerras, brigas, idas e vindas. Resolvi “aceitar” a transição.

O problema não era aceitar como homem, isso eu já tinha muito claro em minha mente. Sempre enxerguei esse homem. E isso era um diferencial em nossa relação, até mesmo porque sempre achei diferente de qualquer relação “lesbo” que vivenciei. Contudo, esse homem só existia em nossas fantasias, em momentos íntimos. E agora eu teria que ceder espaço. Pois bem. Como fazê-lo?

A primeira das mudanças eu acredito que seja a mudança do “artigo”. E nessa fase me surge inúmeras dúvidas e questionamentos:

E o que é esse bendito artigo? Porque ele é tão importante para a construção e adequação do gênero? E que raios de palavrinha tão difícil de ser pronunciada?

O bendito do artigo, nada mais era que deixar de ser “ela” para ser “ele”. Fácil? Não!

Não entendia a necessidade de ser chamado assim, de ter que me adaptar para acalentar seu “ego”. Era assim que eu erroneamente pensava. Que era por ego, vaidade e até mesmo para se sentir o macho alfa. BALELA!! 

Entendi que isso era necessário para a adequação ao gênero. Que é uma forma de respeitar a identidade que sempre teve. E que quando eu não fazia ou faço (Confesso, que ainda não uso 100% o artigo masculino. Tenho me esforçando. Rs!) vou de contra sua natureza e de certa forma “ofendendo sua existência” .

Imagine a situação onde uma mulher “cis” é confundida e chamada de “Senhor” ao invés de “Senhora” como esta se sentiria? Imagine isso na frente de milhares de pessoas. No mínimo se sentiria exposta e até mesmo ridicularizada, correto?

 O mesmo sentem os “transhomens”, que na maioria das vezes são socialmente obrigados a responderem ao artigo feminino por conta do corpo que apresenta.

 Nesse momento você pode se perguntar, mas o porquê usar o artigo se ainda não tem uma imagem masculina? Também me questiono isso às vezes. E por vezes questionei a ele se não poderíamos usar apenas quando fizesse a transição ou a hormonização. E sabe qual a resposta obtive? “Não se trata de aparência e sim de como eu me sinto. Sinto-me homem e não faz sentido continuar sendo tratada como mulher, apenas por ainda ter o corpo de uma.”

Isso nada mais é que respeitar a vontade de cada individuo. Cada ser tem suas particularidades.  Talvez “nós” que estamos do outro lado da moeda, não entendemos e nunca vamos entender a importância de se adequar o artigo. E de verdade? Acho que não precisamos entender ou ficar numa busca incessante por respostas. Tem coisas que jamais terão respostas.

A maior resposta é ver o olhar de alegria, felicidade e paz estampado em sua face ao ver que usei o artigo masculino de maneira leve. Sem rancor ou mágoas. É ver que não é um artigo que irá apagar anos  de convivência ao lado dele. É sentir que ao chama-lo assim, ele se sente inserido na sociedade da maneira que sempre desejou. E dessa vez inserido da forma correta que é respeitando seu gênero.

Sei que não é fácil e que não é tão florido quanto parece. Que na prática é bem diferente. Contudo, só posso dizer que TENTE. Caso não consiga, respire fundo, comece novamente e explique suas limitações. O importante é estarem juntos nessa viagem. É uma transição dual. E necessita de muitas conversas. Com o tempo tudo se ajeita e se adéqua. Com muito amor e respeito tanto para com ele, que está em processo, quanto para você que está como coadjuvante.

Posso dizer que estou em processo de transmutação. Estou transmutando todos os meus preconceitos, medo, raivas e ódios.  Para que juntos possamos encontrar a felicidade plena de nossas realizações individuais e como casal.


Até a próxima descoberta.

Dama Sahi

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Blog " Uma Dama" agora no Facebook





Buenas...

Assim como o blog, resolvi criar uma página no face para uma melhor comunicação.

Abaixo segue a page onde atualizarei com as postagens do blog e alguns posts rápidos.

A quem se interessar, existe um grupo de NAMORADAS DE FTM BRASIL. Estão todas convidadas!


https://www.facebook.com/pages/Uma-Dama-para-um-FTM/640159699364224?ref=hl

Xeque Mate



Não Sei bem ao certo em que dia descobri.  Só sei que descobri.

No ano de 2012 numa dessas buscas pela internet. Um perfil masculino desperta minha atenção. A priori, nada de diferente, apenas um perfil.  Mas o que eu não sabia é que naquele perfil morava ou escondia-se aquela que dormia ao meu lado todas as noites.

Um misto de emoções misturava-se com fúria, ódio, confusão mental entre tantos outros sentimentos que não sei bem ao certo como descrever de uma forma que não seja pejorativa.

Discutimos por horas e a resposta que eu desejava, era saber o motivo de tal “ABERRAÇÃO”. Sim, meus caros. Era assim que eu me referia a “ela” que era “ele”. E a única coisa que consegui ouvir naquela noite foi uma frase que ecoa em minha mente até hoje:

 “Esse sou eu, por pior que possa ser para você. Mas sou eu”

Fiquei ali parada, não sei exatamente por quanto tempo. Apenas olhando para seus olhos e observando o “homem” que sempre existiu em seu ser e que agora clamava por vida.

Meu mundo veio à lona naquele instante. Sentia que perdia a “mulher” da minha vida. E que aquele “homem” que sempre existiu em nossas fantasias, agora tomava vida e forma. Agora cobrava o lugar que era seu por direito.

Aquela noite não falamos no assunto. Era algo proibido e foi assim por longos meses...


Aos meus velhos e bons amigos que acompanham e me auxiliam nesse renascimento do meu amor, do meu amigo, irmão e amante. Os meus singelos agradecimentos. E aos novos, sejam Bem VindXS.

Espero através do blog,  aprender e ajudar de alguma forma as “COMPANHEIRAS, ESPOSAS E NAMORADAS” de um FTM.

A descoberta não é fácil, os primeiros passos também são confusos e o fim??? Esse ainda não alcancei. A única certeza que tenho é que: Amo meu “Rei” assim como ele nasceu, é e sempre será. E esse amor  não tem formas, cores ou rótulos. O amor, não tem gênero certo ou errado. Ele é uma luz em meu caminho. E todo feixe de luz, não tem forma. Apenas calor, luz e esplendor. E é assim que eu o vejo, uma luz em meu caminho, que brilha e aquece meus momentos de dificuldades e ilumina meus pés feito lamparina de sabedoria para um novo despertar.

Espero contribuir de alguma forma para o crescimento de muitos amores que nesse momento encontram-se perdidos. A espera de uma luz para ver que SER UM FTM não é ser diferente. Não é algo novo a ser aceito. É ser você em sua essência, em seu nascimento.

Um forte abraço a todXs e até as próximas descobertas!

Dama Sahi